SONETOS
"Ver... e do que se vê logo abrasado
Sentir o coração de um fogo ardente,
De prazer um suspiro de repente
Exalar, e apos ele um ai magoado.
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Aqui que não foi ainda logrado,
Nem será talvez, lograr na mente;
Do rosto a cor mudar continuamente,
Ser feliz e ser logo desgraçado;
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Desejar tanto mais quão mais se prive
Calmar o ardor que pelas veias corre,
Já querer, já buscar que ele se ative;
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O que isto é, a todos nós ocorre:
- Isto é amor, e deste amor se vive;
- Isto é amor, e deste amor se morre."
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"Morre no prado a flor; a ave nos ares
Ao tiro morre de arcabuz certeiro;
Morre o dia o esplêndido luzeiro;
Morrem as vagar nos quietos mares;
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Morrem os gosto; morrem os pesares;
Morre oculto na terra o vil dinheiro;
De encontro ao peito, que as apara inteiro,
Morrem as setas dos cruéis azares;
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Morre a luz; morre o amor; morre a beldade;
Na virgem morre a cândida inocência;
Morre a pompa, o poder; morre a amizade.
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É de morte sinônimo a existência;
No mundo é só perene a são verdade;
"Só não morre a virtude, a inteligência."
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É o seu rosto gentil, sua figura,
Da criação archetipo mimoso;
Quanto vemos de belo e majestoso
Resume-se na sua formosura.
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Estrela que em céu límpido fulgura,
Rosa aberta em vergel delicioso,
Não tem o encanto do seu talhe airoso,
De seus olhos a luz serena e pura.
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Nela, conta a artística afouteza,
Contra o pincel dos homens em sarcasmo
Quis ao mundo atirar a natureza.
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E o mundo inteiro estremeceu de pasmo,
Quando rara saiu sua beleza
Das mãos de Deus no ardor do entusiasmo.
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Foi ela quem num cândido sorriso
A lira me afinou, que hoje é só pranto;
Foi ela que dos olhos ao quebranto
Iluminou-me na alma um paraíso!
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Foi ela que exaltou-me de improviso
De amor ao céu, nos voos do seu canto;
Foi ela!... e agora à fímbria do alvo manto
Fugir não sei, sabendo que é preciso!
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Foi ela!... zelo atroz cavou-me fundo
O peito, e já não vejo como alcance-a
Para beijar-lhe o resplendor jocundo!
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Foi ela... Deus, me tira desta ânsia!
Prende as asas da sílfide que ao mundo
Irmã da luz, baixou da eterna estância!
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BREVE BIOGRAFIA
Francisco Moniz Barreto foi um poeta brasileiro que nasceu na vila de Jaguaribe, Bahia, a 10 de Março de 1804 e faleceu a 2 de Junho d 1868. Considerado um poeta muito fecundo e repentista; foi cognominado de o Bocage brasileiro, escreveu inúmeras poesias, elegias, epístolas e sátiras.
Nicéas Romeo Zanchett
sempre brilhando parabens
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